sexta-feira, 30 de abril de 2010

As metamorfoses do espírito segundo Nietzsche

Em Assim falou Zaratustra, Nietzsche descreve três metamorfoses ou transformações do espírito. O espírito vive a auto-superação através das seguintes metamorfoses: Inicialmente, torna-se camelo. Em seguida, torna-se Leão e posteriormente criança.

O camelo, espírito heróico de suportação de toda a carga existencial herdada das tradições culturais da humanidade, supera a si mesmo e torna-se leão. O leão, espírito libertário que se rebela contra a opressão dos deveres impostos através de uma heteronomia, torna-se criança, espírito criador. O camelo é capaz de suportar o fardo de pesadas tarefas assumidas na busca do conhecimento e todo sofrimento que advém no caminho da realização, mas chega um momento em que ele se liberta. O heróico camelo simboliza um espírito realista que quer ser capaz de ver o que a realidade se torna a cada momento. Seu valor é determinado do modo como Nietzsche expressou em Ecce Homo, quando diz: “Quanta verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito? Cada vez mais tornou-se isto para mim a verdadeira medida de valor”.

O Leão simboliza um espírito ativista revolucionário que o camelo se torna quando não aceita mais submeter-se passivamente à realidade como ela se mostra, e se rebela: quer conhecer a realidade – com a fome de um leão - para transformá-la. O libertário livra-se dos deveres heterônomos e cria para si a liberdade de novas criações

De repente, num momento oportuno - seu kairós, um instante singular – quando o libertário, que era um espírito rebelde - e portanto reativo – supera sua reatividade, torna-se puramente afirmativo, espontâneo, o leão torna-se criança, o espírito lúdico inocente que começa a jogar com a vida o jogo da criação: como criança, sente-se corpo e alma, e quer viver ludicamente a existência.