domingo, 7 de outubro de 2007

Uma Filosofia crítica e criativa

POR UMA AUTÊNTICA FILOSOFIA CRÍTICA E CRIATIVA

A filosofia é o pensamento que interpreta a realidade da vida a partir de uma perspectiva, produzindo uma intuição relativa a esta realidade, que é apresentada através de conceitos relacionados coerentemente. A intuição é produzida pela sensibilidade que gera uma compreensão dos fenômenos da vida e as expressa numa linguagem conceitual que comumente assume um caráter paradoxal.
Isto acontece desde o nascimento da filosofia quando os primeiros pensadores se expressavam de modo poético, apresentando suas concepções singulares sobre a natureza da realidade. A primeira grande questão que ainda hoje surge como tema de discussões decisivas relativas à interpretação da realidade é a questão ontológica da existência. Na antiguidade, enquanto Heráclito interpretava a realidade como o que vem a ser, Parmênides a pensava como o que é e permanece sendo essencialmente o mesmo. Estas duas concepções básicas acerca da natureza da realidade geraram diferentes tendências ou correntes epistemológicas, éticas e estéticas.
Se, por um lado, Heráclito inspirou todo um pensamento filosófico que compreende toda a existência de modo dinâmico e imanente (condicionado), como uma realidade em constante movimento e mudança, Parmênides, por outro lado, influenciou toda uma concepção metafísica da existência que pensa o ser como uma realidade transcendente e separada de sua imanência.
A condição humana, por sua vez, é a de um ser-no-mundo. Isto quer dizer que o homem situa-se no mundo, sua existência situa-se no tempo e no espaço, num momento e lugar determinados a partir dos quais se define sua condição existencial imanente. Em verdade, o ser humano cria a si mesmo a partir de sua condição existencial e esta inclui todas as determinações inerentes a sua natureza.
A singularidade de sua autocriação está no modo próprio como o homem concebe sua realidade e efetiva suas possibilidades existenciais. Nesse processo, o homem não é completamente livre para criar a si mesmo como queira, pois se encontra condicionado pela sua forma de existência, sua história, aquilo que do seu passado ainda está presente. No entanto, há uma transcendência possível que não é metafísica, pois não transcende sua imanência, mas transcende a si mesmo, através de uma auto-superação que ocorre a cada momento em que ele projeta um futuro a partir de uma interpretação de seu passado que dá sentido ao presente. Seu projeto existencial o conduz a ir além de si mesmo realizando um sentido vital de auto-superação criadora da existência. Isto se dá a partir de uma libertação dos aspectos de sua condição existencial que determinam os limites que impedem o livre desenvolvimento de sua vitalidade.
Essa libertação acontece por força da vontade de potencializar a vida e fazê-la crescer no sentido de suas realizações. Para isso, a vontade precisa coordenar os impulsos que querem se efetivar dando um sentido propriamente autônomo a sua existência, capaz de intensificar seus afetos mais importantes, seus sentimentos mais elevados, suas sensações mais prazeirosas, suas emoções mais animadas.
Isto requer uma apropriação de si mesmo na qual sejam incorporados os valores mais vitais ao projeto existencial transcendente de auto-superação criadora do sentido da vida e sejam abandonados aqueles valores que bloqueiam o desenvolvimento pleno dos dons, talentos e capacidades que possibilitam tal transcendência. Com isso, torna-se necessário participar ativamente da instituição cultural dos instintos, impulsos, pulsões, desejos e afetos mais vitais ao crescimento da potência de uma tal vontade.
A essência do estilo singular que se dá à própria existência manifesta-se (existencialmente) através das criações culturais de modos de vida plenos de significados e abundantes de realizações. Para isso, é necessário que o pensamento filosófico realize toda uma crítica de valores e sentidos vigentes que precisam ser superados para possibilitar estilos de vida imanentemente transcendentes e vitalizados, e portanto, sábios na arte de viver.

Ivan Maia de Mello

Um comentário:

Raquel disse...

Ta demais hein pró!
parabéns!